sexta-feira, 19 de setembro de 2008

ciclista marinho


a sombra assombra


I´m not perfect.
Medos mudos.
Minha pele é sensível,

se espalham em mim dores.
Meus olhos às vezes acordam tristes.
Meu cabelo: não é nem bom nem ruim,

e também grisalho.
Haverá espaço pro que não é perfeito?
Esse espaço, onde?
Não o lugar comum – no mundo...
Em mim, há espaço pro imperfeito?
Descarto tudo que tem defeito.

Descarto tudo.
A solidão: única incorrigível coisa.
Tudo tem hora certa,
intui, respira, aperta
suspira, conspira
e acerta.

Fecho uma porta torta,
Pra ele entrar pela reta.
Nunca tranco a janela
Do que não se vê,
pra espiar pela fresta.
Um veio e foi,
Outro vai,
Aquele volta.

Deus escreve cartas belas
Em linhas tortas cheias de amorosas palavras.
Ou junta tudo pra sempre, sem volta.
Ou me descola as almas agora,
Me desconsola.
Me deixa sola,
surda e muda,
Pra ver se eu aprendo de vez que amor
É mais silêncio que
poema.
Se fosse tricoteira,
Como as de minha linhagem
compraria somente novelos emaranhados.
Desfaria nós,
desenlaçaria fios,
num ballet de achar-a-ponta-passar-por-dentro
por-fora-volta-vai-desenrola.
E quando a linha,
desempedida de desvios,
repousasse aguardando as agulhas,
Eu suspiraria a contemplar minha obra:
um novelo liberto.