segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Depois de perder a conta dos dias

Ando como num corredor de lama, inconsciente e inconsistente. Água e traumas de outros e medos meus, teus além, de uma dificuldade glaciar de expressar o caroço: amor. No fundo da polpa , onde tudo dorme pra continuar, onde há o rígido necessário pra vida em perpetuar : o osso do fruto. Caroção, coração. Onde mora o tudo no mais mínimo. Give me love, give me Love, give me peace on earth. Há realmente este caroço amoroso, todo o inverso e o mesmo que a polpa suave, doce/azeda do que se ama? Buscar mais que a superfície aveludada do pêssego, a sementice gelatinosa do maracujá e da romã, mais que a gorda esverdeada carne de abacate.
Se ali, algo, reside mais que a palavra, mas em si a coisa. Em si, dobrada sobre si, tão diminuta e potencializada que uma bomba atômica amorosa. A coisa, que não se poderia dizer. Esse tal caroço carregado de silêncio significante de tudo e muito, muito mais nada algum que isso. Haverá. Por certo, esse alef dentro de nossos caroços encouraçados e necessitamos a quebra. O que parte, parto, nasce. O que não se multiplica silencia em olvido e morre, morre para sempre. Mas procuremos o caroção, procuremos o pequeno do íntimo. Encontrar não é o necessário: o cavocar a polpa em busca do que duro duradouro.

Aqui, onde há àgua, cresce em mim um pé de liberdade bem nutrido.
Floridas vontades e um cristalino azul
encharcando montanhas idosas.
Nessa cidades de altos e baixos, nos assalta a paisagem
ampla entre lojas e regalos turísticos, nos salva da humanidade. Perfeita medida entre wild e urbano, entre o que produzimos e o que em nós é capaz de produzir, a natureza crua. Do avião se via um azulado véu pousado sobre o verde de cadeias de montanhas siamesas ad infinitum. Do avião se via que há ar, fresh, que há espaco, empty, que há passos abismais em direção a nós mesmos.
Se sobem morros em busca dessa vista que nos arremessa a nossa real dimensão: nada em eterna arrogância humana. Nada em eterno desejo íntimo de si. Mas há esses lagos que inundam em mim, há esses cerros que me atravessam para que úmida não esqueça o peso de pólen de minha existência.