domingo, 16 de novembro de 2008

Fui povoando de sonhos uma casa. Cresceu mais que tudo o que houve na cidade. Pelas costas sempre outras coisas. Vamos cavalgar as flores de pétalas adjacentes e sumergir depois em pequenos vidros de geléia. Vamos cortar a grama do jardim que nunca tive e soltar os cães de minha infância. Há também uma visita a ser feita, pro labirinto de cerca-viva incendiado por delinquentes juvenis – talvez meus primos. Foi e não volta, sim? Não explicaremos nada. Não há tradução nem língua possível para essas dores e contrangimentos de abandono. Eu não te teria deixado e deixei. Eu teria suplicado a tua presença se tivesse 17 anos, mas estamos velhos para esse amor desesperado, ele soará tão falso quanto o adeus que não me quiseste dar. Vamos para serra, será? Vamos praquele lugar da ponte. Vamos construir uma ponte de nós? Tá, tá , tá. Eu aceito o fim de tudo, depois que vi quando tiraram a gaiola de tucanos do Passeio Público.
Mas no sonho, paralelo ao decorrer do fim, houve uma chuva incessante, houve um salto da janela e tua voz repetindo: - Eu preciso ir embora. E a melancolia, e uma porta que não quis se abrir, mas conseguiste a chave. As rosas sem gosto só provam que foram colhidas antes do tempo.
Quem cozinha ou planta aprende que também os sentimentos tem ciclos. E se regam e adubam para que não morram.
Saudamos a primavera e suas flores paralelas, até o encontro de nossas retas pela circunferência do vasto-pequeño mundo. Sul e norte são a mesma coisa numa superfície esférica. Serão opostos apenas para quem lê mapas, planos cartesianos, não para eu que crio estradas com o que sinto e sempre tenho como ponto de chegada o coração do coração das coisas.

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