O que é ver uma
filha inerte?
O que é um mãe
à procura das
sandálias
da menina?
A pequena
esperando à porta,
desenxuta
e, no
detalhe:
a mãozinha delicada
num trinco de metal.
O que é esse
clarão
que eu quase também vejo
no meio da sala, da casa,
no meio do
mundo,
da tempestade?
O que é um homem
que instala um pararraio
e
não o aterra?
-O que é, senão,
a mão pesada
de Deus a dar
lições?-
Ana que deita
pra sempre na frente
dos todos
irmãos,
recém banhados.
Nem há coração
pra ouvir
tanta
chuva.
O que é,
quando vem,
esse erro,
esse raio,
que
não volta atrás?
Que atravessa,
num egoísmo
de destino,
o
destino
de todos?
Nem sei,
nunca sabemos,
vejo que existe pelo
seu
odor de enxofre
e porque dele resta
uma mãe
que em dia de
tempestade
larga tudo,
senta num banquinho,
calça sandálias de
borracha,
junta as pernas e
se encurva.
até
que
volte
o
sol.
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