Élégie à Port-au-Prince
de Lu Cañete & Rodrigo Madeira
Ai de ti, Haiti.
Cada dia escuto,quando inspiro,
o expirar anônimo dos que restam
sobre o mosaico da destruição,
fora de si.
Vejo rostos que nunca vi,
encrustados nos destroços,
existindo "jusqu´au moment"
de dar pedra e aço ao osso.
Quase ouço, contra um caco de parede
e logo
silêncio, silêncio... o partir do osso que se ouve e não.
Simultâneos cessares de inspiração.
Um coro:de paradas cardíacas.
Sincronizados em pontos vários,
como estrelas inconscientes de qualquer galáxia,
que, em orquestral desfecho
e por antigenisíaco sopro, apagam-se.
- um desmilagre?
Ai de ti, Haiti.
Ai também de mim que sei de ti,
mas continuo, soterrada no que sou,
(como se de outro terremoto, dentro,
sem escala que meça, o epicentro
fosse aqui.)
7 comentários:
Tocante, triste e lindo...
com sentimentos!
Tia Neca
Lu (e Rodrigo),
gostei muito deste poema.
Gostei tanto que, por meus modos chatonildos, revisei-o, em duas questões "outrográficas" (incrustadas genesiacamente), e em mínimas rediposições e sugestões de pontuação e espaçamento.
Esse é o modo desagradável que eu tenho de expressar que o poema está ótimo...
Colo-o abaixo, após minhas (questionáveis mas bem-intencionadas) intervenções cirúrgicas:
ÉLÉGIE À PORT-AU-PRINCE
(Lu Cañete & Rodrigo Madeira)
Ai de ti, Haiti.
Cada dia escuto, quando inspiro,
o expirar anônimo dos que restam
sobre o mosaico da destruição,
fora de si.
Vejo rostos que nunca vi,
incrustados nos destroços,
existindo "jusqu´au moment"
de dar pedra e aço ao osso.
Quase ouço,
contra um caco de parede
e logo
silêncio, silêncio... O partir do osso que se ouve e não.
Simultâneos cessares de inspiração.
Um coro: de paradas cardíacas.
Sincronizados em pontos vários,
como estrelas inconscientes de qualquer galáxia,
que, em orquestral desfecho
e por antigenesíaco sopro, apagam-se.
– Um desmilagre?
Ai de ti, Haiti.
Ai também de mim que sei de ti,
mas continuo, soterrada no que sou,
como se de outro terremoto, dentro,
sem escala que meça, o epicentro
fosse aqui.
Ivan, obrigada por ler e se dar ao trabalho de intervir cirurgicamente...gostamos muito do que você escreve, por isso sua opinião é muito bem-vinda.
Ainda não falei com o Madeira, mas chegaremos num consenso e publicaremos as sugestões acatadas em breve!
fala, ivan!
a lu me pediu pra dizer o que eu achava desse teu DEDO IMUNDO em nosso poema... rsrs
concordamos com as alterações, com elas todas, embora elas todas nos chamem de semianalfabetos (aqui devo eximir a lu. errei sozinho. as crassidades são de minha lavra: "encrustar" e "antigenisíaco"). portanto, refraseando: embora elas todas me chamem de semianalfabeto, ainda que antenado às novas regras de hifenização...
gostei das mudanças. ficou melhor. ou, modestamente falando por mim e pela lu, ficou sutilmente menos pior.
1. a espacialização ficou mais redonda.
2. "encrustado" tbm é possível (vide o v.o.l.p, da academia brasileira letras). mas é raro e parece errado. assim como "tecitura".
3. "antigenisíaco" não foi um neologismo dionisíaco, mas uma falha cromossômica nos meus "genis" geniais. é pobrema de norma curta mesmo!! obrigado por sua correção ortogênica.
em suma, ivan, todas as alterações foram "subscritas embaixo" e aprovadas em cartório pelas 9 musas. rs.
valeu, ivan! grande abraço!
ps - por favor, meu caro, corrija tbm esta minha nota.
Prezado r.m.
a única "correção" que minha pachorra revisorenta aventurar-se-ia a fazer a essa sua "nota" seria que você não a assinou -
mas visto que o seu estilo irrefragável e o seu humor exantemático são inconfundíveis a milhas de distância e éons de tempo, não há necessidade de.
Outrossim, eu é que agradeço a vocês pelo poema que perpetraram, e rogo não interpretem minhas intervenções como admoestações ou qualquer atribuição de semianalfabetismo por tabela, whatsoever...
A mera sugestão disso já seria um anátema, no que tange a poetas de tal sofisticação e expressividade.
Grato novamente pela aprovação cartorial, e minhas lembranças a Calíope, Euterpe, Terpsícore, Érato, Polímnia, Talia, Clio, Melpômene e Urânia.
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