domingo, 7 de agosto de 2011

Quelo #1

Quelo ser amiga de um chinês de pastelaria. Eles existem aos montes, invisíveis, pelo centro da cidade. Mas não convivem.
Nem comigo, nem com você que me lê, arrisco. Ninguém que eu conheça, conhece intimamente um chinês de pastelaria.
Nome e sobrenome, quando muito. Eu quero também o dos filhos e da esposa, e saber no mapa, a cidade onde nasceu. Agora dei por, quando vou a uma festa de amigos, procurar um chinês de pastelaria entre os convidados. Um certo sentimento de nazismo às avessas me toma: me relaciono com a calda espessa da miscigenação, mas o milenar e oriental, tão puro e uma mesma coisa, não participa. Esses, de nação distante, servem apenas para fritar pasteis, vender doce e dizer “tloco, tloco”. Eles não estão na universidade, nem nas eleições, poucas vezes num supermercado e algumas outras a jogar pipoca pras malditas pombas da Santos Andrade. “Claro, são eles que não se misturam , não aprendem a língua, se organizam em pequenas máfias de distribuidoras de doces e pastelarias” – você pensa surpreso. Mas o mistério engordurado do outro lado do balcão permanece. E eu continuo desejando um amigo chinês de pastelaria.

Um comentário:

rodrigo madeira disse...

rsrs
maravilha! adorei os dois, os quereres...

este poema (ou pastel) tem um delicioso sabor de quintana.