domingo, 6 de março de 2011

Para P. V.

A dor do escritor não era minha. Já o tinha visto desfiar o passado dolorido do pai, tão rude, desabado sobre um menino frágil.
A dor do escritor não é minha. Mas me dói. Nunca chego perto do escritor, a dor dele me assusta. E depois das aulas , das palestras, dos lançamentos que assisto, fico horas em casa conversando com o escritor maltratado, privado de infância, que ele conta ter sido. Eu afago aquela criança de pernas finas, eu lhe dou livros e lhe conto histórias. Eu leio as histórias do escritor, que vieram de ausências, diz ele. Da falta que lhe preenche.
Mas quando reencontro o escritor, me encolho. A dor dele me murcha, cresce sobre minhas palavras, me retrai. E não encontro a docilidade de quando o leio. E não venço os poucos metros entre meu coração e o do escritor. Ele, presente, é também só ausência.

Um comentário:

rodrigo madeira disse...

adorei, lulu.

tz nem seja preciso sentir a dor do autor.
basta sentir a beleza e alegremente saber que - graças ao "engenho e arte" - o que antes ali havia era dor, a dele e a nossa.

me inscrevi como teu seguidor. e amanhã devo te seguir até porto alegre.

beijo.