Mild
Há dias em que simplesmente não posso mudar o mundo.
E necessito ser mundana.
Me enforca um embrulho na garganta, e meu peito passa o dia oprimindo.
Há, é certo, certos dias em que necessito não sorrir.
Vou ao salão fazer as unhas e falo de futilidades.
Vago penando por vitrines e depois qualquer filme e chocolates finos.
Há esses dias, em que as crianças que morrem de fome continuam morrendo.
E os viajantes sem dinheiro e contra convenções viajam pra longe de mim.
Rezo pra não ser, ou querer ser, mais que mediana, comum, mulher, eu.
Há esses dias, sem revoluções a vista, sem planos de viagem,
sem poemas atravessados.
E um pouco, é verdade, me envergonham – esses dias.
Wild
Mas há também esse dias selvagens,
em que qualquer sinal de doçura e superficialidade
me transtorna.
Em que necessários horizontes infindáveis ferindo minhas retinas.
Há também esse dias, revolucionários e incendiários
em que não me reconheço mulher ou homem.
Numa tentativa fatigante de mais, de nunca, de rupturas de mim.
Em que não me encontro e estou.
Faminta de paisagens eternamente se decortinando,
todas as línguas, muitas tribos,
diferentes medidas e temperos pra apaziguar minha alma.
Há certo, também esse dias.
E me inquietam - esses dias.
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